O SUL EM CIMA dessa edição é dedicado a obra de YAMANDU COSTA E RICARDO HERZ.
YAMANDU COSTA
Violonista e compositor nascido em Passo Fundo em 1980, Yamandu começou a estudar violão aos 7 anos de idade com o pai, Algacir Costa, líder do grupo “Os Fronteiriços” e aprimorou-se com Lúcio Yanel, virtuoso argentino radicado no Brasil. Até os 15 anos, sua única escola musical era a música folclórica do Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. Depois de ouvir Radamés Gnatalli, ele começou a procurar por outros brasileiros, tais como Baden Powell, Tom Jobim, Raphael Rabello entre outros. Aos 17 anos apresentou-se pela primeira vez em São Paulo no Circuito Cultural Banco do Brasil, produzido pelo Estúdio Tom Brasil, e a partir daí passou a ser reconhecido como músico revelação do violão brasileiro.
Revelando uma profunda intimidade com seu instrumento e com uma linguagem musical sem fronteiras, percorreu os mais importantes palcos do Brasil e do mundo, participando de grandes festivais e encontros, vencedor dos mais relevantes prêmios da musica brasileira. Em 2010, o CD Luz da Aurora com Hamilton de Holanda foi indicado para o Grammy Latino.
Em 2012 ganhou em Cuba o Prêmio Internacional Cubadisco pelo CD Mafuá e uma Menção do Prêmio ALBA pelo CD Lida.
Yamandu Costa é na atualidade o músico brasileiro que mais se apresenta no exterior abrangendo os mais diversos países do globo: França, Portugal, Espanha, Bélgica, Alemanha, Itália, Áustria, Suíça, Holanda, Suécia, Noruega, Finlândia, Estônia, Eslovênia, Rússia, Lituânia, Sérvia, Grécia, Macedônia, Israel, Chipre, Índia, China, Japão, Coréia do Sul, Zimbabwe, Cabo Verde, Angola, Emirados Árabes, Austrália, EUA, Canadá, Equador, Cuba, Colômbia, Chile, Argentina, Uruguai e Costa Rica.
RICARDO HERZ
Ricardo Herz reinventou o violino brasileiro. Sua técnica leva ao instrumento o resfolego da sanfona, o ronco da rabeca e as belas melodias do choro tradicional e moderno. Com a influência de Dominguinhos, Luiz Gonzaga, Egberto Gismonti, Jacob do Bandolim entre outros, o violinista mistura ritmos brasileiros, africanos e o sentido de improvisação do jazz.
Graduado em violino erudito pela USP, sua sólida formação começou aos 6 anos, tendo passado pela escola Fukuda em São Paulo. Estudou na renomada Berklee College of Music, nos Estados Unidos, e no Centre des Musiques Didier Lockwood, escola do violinista francês, uma lenda do violino jazz.
De volta ao Brasil desde 2010, Herz tem participado de muitos projetos e colaborado com músicos e se apresentando como solista com orquestras de todo o país, como Yamandú Costa, Dominguinhos, Nelson Ayres, Proveta, Orquestra Jazz Sinfônica, Orquestra Sinfonica de João Pessoa, Orquestra Municipal de Jundiaí, Grupos de Referência do Projeto Guri, Orquestra Filarmônica de Violas, Orquestra Breusil entre outros. Gravou diversos CDs em duo: com o vibrafonista, multi-instrumentista e compositor mineiro Antonio Loureiro, com o gaúcho Samuca do Acordeon e com o pianista, maestro e arranjador Nelson Ayres. Com a camerata Cantilena Ensemble tem tocado o repertório do seu disco infantil.
Ricardo também tem dedicado parte de seu tempo no ensino e difusão do violino popular , tendo ministrado diversos cursos em festivais e recentemente lançou o primeiro método online de violino popular brasileiro.
ÁLBUM YAMANDU COSTA E RICARDO HERZ
O álbum Yamandu Costa e Ricardo Herz foi gravado com a missão de sintetizar os sons e ritmos plurais da música do Brasil ao longo dos 11 temas que compõe o repertório autoral inteiramente assinado pelos dois virtuoses.
A união da dupla é inédita e o novo álbum surgiu da tentativa de misturar as linguagens de cada um, sem limites. “Nesse disco que gravamos, as composições são todas próprias, nossas, com a intenção de falar do Brasil de uma forma geral, já que a composição é um resultado de todas as influências e todas as intenções que temos ao fazer música.”, disse Yamandu.
“Desde que eu ví o Yamandu tocando pela primeira vez, achava que esta parceria iria dar pé. Quando a gente se conheceu pessoalmente então, eu tive certeza. Apesar de nossas histórias serem bastante diferentes: eu, vindo da música erudita para a popular e ele, da música popular e cada vez mais tocando em palcos de música de concerto, chegamos hoje em um meio de caminho que se comunica muito bem.”, explicou Ricardo Herz.
“Nós dois tentamos usar o que cada tradição tem a acrescentar na outra. Tanto eu como Yamandu aprendemos as músicas de ouvido para este disco, improvisando nas intenções, respondendo nas escolhas de notas, contrapontos, oitavas e criando muito do arranjo no momento de tocar. Tudo foi feito de coração!”, completou Ricardo Herz.
“O ARCO E A LIRA”
A música sem palavras, que acostumamos chamar de instrumental, se desenvolve por caminhos muito particulares. Aqui não há normalmente uma narrativa com significados direcionados pela língua. Mesmo assim, uma sequência de notas pode ser entendida como poesia,pois sons também despertam humores, sugerem sensações, viagens, sacrifícios, surpresas. Se há relações entre música instrumental e poesia, há também uma analogia – como o poeta mexicano Octávio Paz (1914-1998) uma vez disse – entre todo fazer artístico e o universo em seu entorno. Para Paz, esse fazer artístico “concebe o mundo como ritmo: tudo se corresponde, porque tudo ritma e rima; o poema [a música!] é um mundo de ritmos e símbolos”.
E nesse caminho sem palavras, mas repleto de analogias e ecos rítmicos, que Ricardo Herz e Yamandú Costa vêm exercendo seu fazer musical. Nascidos na virada dos anos 1970 para os 1980, obtiveram uma primeira maior visibilidade ao se destacarem nas edições do Prémio Visa – Instrumental do início dos anos 2000.
Mas suas trajetórias são, por outro lado,bastante distintas.Yamandú cresceu envolvido pela música regional gaúcha de Passo Fundo e seu entorno, em meio às milongas, tangos, zambas e chamamés. Gradativamente, seu território musical se expandiu, para abrigar choros, ritmos nordestinos, um pouco de Villa-Lobos e diversas outras paisagens instrumentais. A técnica e o virtuosismo explosivo que desde cedo foram suas marcas no violão de sete cordas,Yamandú agregou pouco a pouco outros contrastes, passagens singelas e uma expressividade mais intimista.
Já o paulistano Ricardo Herz representa muito bem o músico de uma grande metrópole: formou-se em violino na USP, passou pelo jazz da Berkiee College of Music e suas raízes brasileiras são, de certo modo, reconquistadas. Influências em altíssimo nível como a música sem fronteiras de Egberto Gismonti, por exemplo, são visíveis, e foram finamente assimiladas, absorvidas para naturalmente fluírem em seu estilo. Um estilo que hoje é sólido, único. É nesse sentido que, para além de seu virtuosismo ao violino – instrumento solista ainda raro na música popular – Herz se destaca também como compositor criterioso, brasileiro no mundo.
Tentando imaginar a música que será produzida nesse encontro de cordas (friccionadas e dedilhadas), é possível ver Herz e Yamandú ampliando ainda mais seu espaço sonoro em busca de um terceiro território ainda por explorar; um lugar improvável onde o risco de um é confortado pelo amparo do outro, um lugar de fusões, diferenças e complementaridades, violino e 7 cordas.
°E não deve ser a toa que Octávio Paz batizou seu famoso ensaio poético de “O arco e a lira”.” (Sérgio Molina)
“Violonista Yamandú Costa e violinista Ricardo Herz lançam álbum comovente
A era dos incendiários, da quebra de barreiras, a chegada do conceito de música plena como não se viu em muitos anos. A geração que desenha a música deste tempo não tem limites. Ela demoliu os muros, transcendeu escolas e se sobrepôs aos próprios formatos que a aprisionaram em outros tempos. Uma revolução aparentemente silenciosa por estar fora dos hippies de mídia e de mobilizações sociais na internet segue em curso, redimensionando o que se entende por música brasileira instrumental.
Ricardo Herz e Yamandú Costa, dois nomes de proa nesse mar de criatividade arrebatadora, entregam um atestado desse tempo. Violino e violão se entrelaçam em uma musicalidade que conversa com os sábios acadêmicos e emociona os ouvintes de rádio. São complementares tanto nas leis da física, o violão de sustentação menor das notas eleva as ideias da voz sem fim do violino, quanto nas leis da vida, aquelas que não se explica. Yamandú e Herz começaram as gravações sem pretensão até que sentiram a força do que faziam se impondo aos próprios planos. “Vamos lançar agora”, despertou Yamandu, diante do que ouvia.
O violão de Yamandu tem mais acabamento, um desafio vencido quando se quer manter a explosão. Alguns explodem as frases, outros acariciam discursos no limite de suas técnicas. Yamandú chega à plenitude ao tornar-se tanto técnico quanto comovente. O violino de Herz tem uma voz singular, de uma bagagem colhida desde os dois anos de idade, seguindo pelos oito anos de vivência em Paris, pela formação de seu trio, pelo mestre Didier Lockwood e pela vontade de se comunicar com qualquer que seja seu ouvinte, presenteando-o com a surpresa e a sugestão da transformação.
Chegam assim aos carinhos de Remanso, aos passeios de Chamaoquê?, aos encontros e às fugas de Mourinho e às lágrimas de Reencontro. Quem fez o quê? Nem importa mais, a ficha técnica do álbum conta. Yamandu e Herz criam um daqueles encontros em que as inspirações e os discursos se misturam para que uma só voz chegue no canto esquerdo do peito preenchendo tudo de calor e de esperança para um povo que precisa voltar a acreditar que sim, existe saída.” (Júlio Maria)
Vamos apresentar no programa O SUL EM CIMA dessa edição as músicas do álbum YAMANDU COSTA E RICARDO HERZ (2018):
01 – MOURINHO (Ricardo Herz) // 02 – INOCENTE (Ricardo Herz) // 03 – XOTE DA GALINHA (Yamandu Costa) // 04 – MILONGA CHORO (Yamandu Costa) // 05 – REMANSO (Yamandu Costa e Ricardo Herz) // 06 – MEIGA (Yamandu Costa) // 07 – MIMOSA (Yamandu Costa) // 08 – CHAMAOQUE? (Ricardo Herz) // 09 – MATUTINHO (Yamandu Costa e Ricardo Herz) // 10 – REENCONTRO (Yamandu Costa) // 11 – EL NEGRO DEL BLANCO (Yamandu Costa)
Ficha técnica: violão 7 cordas – Yamandú Costa // violino – Ricardo Herz // produção musical – Yamandú Costa e Ricardo Herz // gravado, mixado e masterizado no Estúdio Bagual por Gil Costa em dezembro de 2017 // designer gráfico: Bel Andrade Lima
Contatos:
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Trabalho extraordinário, lindo, competente. Clovis Pereira, que deu vida ao Mourão, originalmente composto por Guerra Peixe, certamente gosta da nova versão.