GIBA GIBA e NICO NICOLAIEWSKY


“Fiquei sabendo do falecimento do Nico Nicolaiewsky e do Giba Giba, grandes artistas do sul. Estou muito triste e só posso dizer que além de lamentar a perda desses dois bons amigos, todos perdemos os artistas que tanto contribuiram com nossa cultura. Minhas lágrimas só servem para acalmar, mas suas obras e gestos estarão para sempre na memória de todos nós.
Obrigado por tudo!”

Kleiton Ramil

LASTIMAMOS O FALECIMENTO DE GIBA GIBA (03/02/2014) E DE NICO NICOLAIEWSKY (07/02/2014), PERDAS IRREPARÁVEIS PARA A CULTURA DO SUL E DE TODO PAÍS.

Giba Giba

Juarez Fonseca escreveu: “Giba Gigante Negão”, título de uma música-tributo de Richard Serraria, ajuda a entender a dimensão do músico, filósofo, sábio e tocador de sopapo que partiu para outra no início da tarde do dia 03.02.2014. Verdadeira entidade, que marcou sua presença de forma vigorosa no cenário cultural do RGS, o pelotense Gilberto Amaro do Nascimento é um dos grandes nomes da cultura afro-brasileira. Em Porto Alegre, entre dezenas de atividades e manifestações de liderança durante mais de 50 anos, foi um dos criadores da primeira escola de samba moderna do estado, a Academia de Saba Praiana. Um gigante mesmo, como poucos.

Nico Nicolaiewsky


ÀS CINCO DA MANHÃ

Fabrício Carpinejar

Às cinco da manhã, a morte tem menos esperança, a fé tem menos altares, as velas se apagaram nas esquinas de Porto Alegre. Às cinco da manhã, o Guaíba quebrou sua luz, o pão se partiu sozinho, o açúcar perdeu seu brilho.

Às cinco da manhã, as roletas do trem pararam de pensar, os elevadores se sentiram velhos, as pombas fizeram greve de farelos.

Às cinco da manhã, o suor veio antes do sol, as ladeiras se despedaçaram como vidraças, as sombras correram para o Mercado Público.

Às cinco da manhã, o musgo se divorciou da pedra, ex-fumantes voltaram ao vício, amantes fingiram derradeiras promessas, não havia chave para abrir as janelas.

Às cinco da manhã, morreu Nico Nicolaiewsky. Ai que terrível, serão cinco e meia da manhã nos relógios da capital gaúcha durante o dia inteiro.

Nico colocou seu último suspiro para sorrir. Pensou que fosse a mesma coisa. Sorrir, suspirar.

Acenou com os dentes, mordeu a palha do vento, como a dizer que daria uma volta no invisível e já retomava o ensaio com os violinos.

Às cinco da manhã, Nico largou ao chão sua gravata, seu colete, se par de sapatos de bico fino, seu bigode da Sbórnia, suas canções desesperadas de amor. E as rosas brotaram de sua pele branca e cansada.

Enrolem o Maestro Pletskaya com as cortinas do Theatro São Pedro, coloquem algodão em seus ouvidos, ele é todo feito de cristal: ele é todo cristalino.

Morreu Nico, Morreu o tango de novo. Morreu a própria tragédia. Sua voz era de um lobo que já tinha sido homem. Hoje só podemos cantar uivando.

Não terá caixão para levá-lo. Não terá caixão para fechá-lo. Ele não é um morto, mas um piano parado.

Confisquem a lua em fevereiro, os corrimões das escadas, soltem os dragões e os cachorros de pedra da Praça da Matriz.

Segurem minhas mãos para não pegar o telefone. Segurem meus braços para não esmurrar a porta. Segurem minhas pernas para não procurá-lo. Segurem meus joelhos para não acordar o acordeon. Amarrem-me em qualquer lugar que não fale português e desperte saudade. Prendam-me na cama, anestesiem meu sangue – estou tão acostumado a enxergá-lo vivo que fui junto.

Só deixem minha cabeça livre. Para mexer a cabeça, para dançar Copérnico com os olhos e esperar que ele volte.

Ele sempre volta.

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