Nessa edição de O Sul em Cima, vamos mostrar os trabalhos de Dona Conceição dos Mil Sambas, Simone Rasslan e Henrique Cazes.
DONA CONCEIÇÃO DOS MIL SAMBAS – Na cidade de Pelotas, no Sul do Brasil, Vila Castilhos, há uma compositora que fez mais de mil sambas desconhecidos do público. Conceição Rosa Teixeira é famosa por ter criado mais de cem filhos “do coração”, como diz, mas nunca foi reconhecida como a notável compositora que é, apesar da qualidade das suas canções. Devido às questões de vida – mulher afro-brasileira, mãe de muitos filhos da comunidade de baixa renda, moradora da periferia de Pelotas e do Brasil, Dona Cô nunca pode se profissionalizar na música. “Agora que todos os meus filhos cresceram, é o momento de compartilhar com o mundo meus outros filhos, meus filhos de papel”, disse a Cô, como prefere ser chamada. “Filhos de Papel” é como ela se refere às suas canções.
Uma pequena mostra dos seus “filhos de papel” ganha o mundo através de edição especial, vinculada à pesquisa de doutorado “Poética da Canção: habitus cancional nos processos criativos da música brasileira”, de Leandro Maia, originalmente em inglês. O estudo é financiado pela CAPES / Ministério da Educação e a impressão do material, composto por songbook e sítio virtual contendo filme e disco, busca democratizar a pesquisa com recursos da RIME 2017 – 10ª Conferência Internacional de Pesquisa em Educação Musical. A conferência foi idealizada pela Bath Spa University, no Reino Unido, com projeto coordenado pelas pesquisadoras Mary Stakelum e Amanda Bayley.
O caderno de partituras, diagramado por Eduardo Montagna, da Discoteca L.C. Vinholes da UFPEL, inclui filme dirigido pelo professor Guilherme Carvalho da Rosa e produzido em parceria com os cursos de Cinema da Universidade Federal de Pelotas. A captação, a mixagem e a masterização foram feitas pelo A Vapor Estúdio, sob coordenação de Lauro Santos Maia durante o festival “Mistura Mundo Sul Generis”, realizado com músicos do Brasil, da Inglaterra e do Zimbábue. Este evento foi realizado em novembro de 2017 com recursos do Edital SeCult 008/2017, proposto por Maria Falkembach, e da premiação Bath Spa Pioneer Award, recebida por Leandro Maia.
Dona Conceição Rosa Teixeira apresenta pela primeira vez uma coletânea de treze canções, dentre mais de mil sambas. Compositora autodidata e intuitiva, Dona Cô apresentou-se pela primeira vez ao público em Pelotas e Porto Alegre nos dias 22/11 e 26/11 de 2017, gravando ao vivo seu CD e DVD acompanhada de um time especialíssimo de músicos: Simone Rasslan (piano e voz), Kiti Santos (sax soprano, flauta e voz), Gutcha Ramil (percussão e voz), Aninha Freire (contrabaixo e voz), Jucá de León (percussão), Rafael Veloso (sax tenor e flauta), Marcelo Delacroix (voz), Paulo Gaiger (voz) e Leandro Maia (violão, voz, direção musical e arranjos). Este trabalho preenche uma lacuna fundamental na historiografia musical da música popular produzida no sul do Brasil por compositoras afro-brasileiras e aprofunda reflexões sobre o processo criativo dos cancionistas.
Músicas: 01 – Aperto de Mão // 02 – Linda Mascarada – Participação de Marcelo Delacroix // 03 – Arranca da Minha Alma – Participação de Felipe Karam // 04 – Conselho Amigo // 05 – Arrepia – Participação de Paulo Gaiger // 06 – Azoar – Participação de Simone Rasslan
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SIMONE RASSLAN – Cantora, instrumentista, compositora e educadora musical com uma carreira artística reconhecida em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Veio de Dourados – MS para cursar Regência Coral pela UFRGS escolhendo Porto Alegre como a cidade ideal para sua atuação artística desde 1988.
O trabalho musical “Álbum Xaxados e Perdidos” de 2012 reúne um repertório de canções brasileiras valorizando, sobretudo, o trabalho criativo dos grandes compositores da nossa cultura que mantiveram a linhagem da canção, da modinha (originária de Portugal), do maxixe. Origem da nossa Música Popular e da nossa identidade musical. No repertório encontramos compositores das regiões Sul, Centro Oeste e Nordeste do Brasil, fazendo um apanhado da produção nacional.
Participam desse trabalho: Simone Rasslan (voz, piano e percussão) // Álvaro RosaCosta (vocal, viola caipira e percussão) // Beto Chedid (vocal, violão, guitarra e percussão)
Músicas: 01 -Lugarejo – Wanderlei Falkenberg / Giba Giba // 02 – Rio de Lágrimas – Piraci / Tião Carreiro / Lourival Santos // 03 – De Onde vem o Baião – Gilberto Gil
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HENRIQUE CAZES – Nascido em uma família de músicos amadores do subúrbio carioca do Méier, começou a tocar violão com seis anos de idade e gradativamente foi incorporando o cavaquinho, o bandolim, o violão tenor, o banjo, a viola caipira e finalmente a guitarra elétrica, sempre como autodidata. Estreou profissionalmente em 1976 com o Conjunto Coisas Nossas, que realizou ampla pesquisa sobre a música brasileira dos anos 1920 e 30. Em 1980 passou a integrar a Camerata Carioca, onde trabalhou em contato direto com Joel Nascimento e o maestro Radamés Gnattali, duas influências decisivas.
Iniciou sua carreira de solista de cavaquinho em 1988, com o duplo lançamento do LP “Henrique Cazes” e do método “Escola Moderna do Cavaquinho”, que se tornou o mais utilizado livro didático do instrumento. Lançou outros discos marcantes como “Tocando Waldir Azevedo” de 1990, “Desde que o Choro é Choro” de 1995, “Relendo Waldir Azevedo” de 1998, e “Uma história do cavaquinho brasileiro” de 2012. Em duo com o violonista Marcello Gonçalves produziu “Pixinguinha de Bolso” em 2000 e “Vamos acabar com o baile” de 2007, este último abordando a obra de Garoto.
Publicou em 1998 o livro “Choro, do Quintal ao Municipal”, que resume a história de 150 anos de Choro. É autor de outros livros como “Suíte Gargalhadas” de 2002 e “Monarco, voz e memória do samba” de 2003, além das pequenas biografias de Chiquinha Gonzaga, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, elaboradas para a coleção “Raízes da MPB” EM 2010. Dedicou-se a projetos de ampliação das fronteiras do choro como “Bach in Brazil”, a série de 4 CDs “Beatles’n’Choro” e “EletroPixinguinha XXI”.
Lançou em 2019 a coleção “Música Nova para Cavaquinho”, composta de livro de partituras, CD e 12 clips para a internet com os “12 Estudos para Cavaquinho Solo”. Em 2011 obteve o título de Mestre e em 2019 concluiu o Doutorado em Música, ambos pela Escola de Música da UFRJ, na qual é professor desde 2013 e onde participou da implantação do Bacharelado em cavaquinho.
Apontado como referência do cavaquinho de solo e um dos mais ativos músicos de Choro da Atualidade, Cazes tem desenvolvido paralelamente uma premiada carreira de produtor de discos,além de compor trilhas para cinema e televisão.
Músicas: 01 – Viravoltando // Alô Paulinho // 03 – Sensacional
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