O Sul Em Cima 39 – Luís Nenung (Nenung & Projeto Dragão / Os The Darma Lóvers)
O SUL EM CIMA dessa edição mostra o trabalho de Luís Nenung que faz parte das bandas Os The Darma Lóvers e Nenung & Projeto Dragão
Parte 1
Parte 2
NENUNG
Gravado por Paula Toller, Mariana Aydar, Dado Villa-Lobos e celebrado por uma porção de artistas, o cantor e compositor gaúcho Luís Nenung completa 32 anos de atividade artística, uma aventura que começou quando ele cantava na banda A Barata Oriental. Seu trabalho mais conhecido é no “Os The Darma Lóvers”, que Nenung divide com a cantora Irinia. Participa também da banda Nenung & Projeto Dragão.
Em 2010 Nenung se reúne a seu parceiro de longa data, o baixista e produtor TH Heinrich, ao guitarrista Maurício Fuzzo (Locomotores) e ao baterista Rafael criando o Projeto Dragão. É o BigBang de um universo de influências, imagens e poesias com sonoridades básicas lapidados para inspirar o resgate poético da música como rito sonoro, estético e poético.
NENUNG & PROJETO DRAGÃO
Em 2014, a banda lança o álbum SERENOATO. Sobre esse trabalho, ARTHUR DAPIEVE escreveu:
Fogo nos Grilhões
O trabalho de Luís Nenung está para a esmagadora maioria da música pop que se ouve(?) hoje em dia no Brasil e no mundo como a slow food está para a fast food. Demanda não apenas uma velocidade diferente de fruição, mas uma relação inteiramente distinta com a música. É assim na “nave-mãe”, Os The Darma Lóvers, é assim no Projeto Dragão, cujo primeiro trabalho nasce agora, depois de três anos de gestação, com o álbum – e talvez eu devesse grafar ÁLBUM – Serenoato.
Por que ÁLBUM? Nenung me ajuda a explicar. “É um disco completo”, diz. “Faz mais sentido sendo ouvido todo (eu recomendaria no escuro) e não sendo de forma alguma uma sequência de jingles singles como tooodo mundo insiste em enfatizar a respeito da música que larga por aí. Não tou pra fazer singles nem jingles, quero compadrilhar.” As faixas se interligam, tanto na forma – tipo a chuva que começa em A tempestade e avança sobre A cada novo adeus – quanto no conceito: uma maratona aquática contra a corrente contemporânea do materialismo emocional.
Aliás, as faixas de Serenoato se interligam também com o trabalho de Nenung com Irínia, nos The Darma Lóvers. A principal diferença é que o duo dos gaúchos – que criou um culto fidelíssimo também no eixo Rio-São Paulo – pode ser classificado como folk-rock enquanto Nenung e o Projeto Dragão são, definitivamente, uma banda de rock. Uma banda de proporções pink-zeppelianas, eu diria. Além de Nenung e de seus vocais mezzo serenos mezzo desesperados, fazem parte dessa big band Maurício “Fuzzo” Chaise (guitarra), Thiago Heinrich (baixo e baixo), Rafael Bohrer (bateria) e Gustavo Chaise (guitarras e violões). Tocam furiosamente.
A principal semelhança entre o Projeto Dragão e os The Darma Lóvers está, naturalmente, na alta qualidade das letras de Nenung, perpassadas pelos ensinamentos do budismo. Num panorama onde a regra é ser tatibitate, ele tem o que dizer e sabe como dizê-lo, seja com indignação seja com poesia.
Que tal “Na imensidão da manhã/ Meu amor se mudou pra Lua/ Eu quis te ter como sou/ Mas nem por isso ser sua”? Familiar? Claro. Meu amor se mudou para a Lua brilhava em Só nós, disco solo que Paula Toller lançou em 2007. Se lá ouvia-se uma balada soul, em Serenoato a música ressurge como um baladão roqueiro, que conta com vocais da argentina Vika Mora.
Não é só a Paula Toller, do Kid Abelha. Todo o pessoal dos anos 80, acostumado a trabalhar com grandes letristas, reconhece em Nenung um dos bons. Em O passo do colapso (2012), de Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana, cinco das 12 músicas tinham Nenung como autor ou co-autor. Em Serenoato, a faixa-título, Dado toca uma prima chinesa da harpa. Moreno Veloso toca violoncelo em A cada novo adeus. Outra argentina, Alejandra Estepa, mais conhecida como Anamoli, canta com Nenung em Houve um tempo. E uma cantora-compositora revelação de Porto Alegre, Carmen Corrêa, participa de Poeta e de O navegador. Isto para citar apenas alguns dos que colaboraram em Serenoato. Assim como nos discos dos The Darma Lóvers, o espírito da produção – feita e mixada por Edo Portugal – foi comunitário.
Comunitária é também a mensagem. Pegue-se, por exemplo, três músicas separadas no álbum, mas unidas no conceito, a raivosa Quem serve a quem, a enojada Maque dia feliz (olha a menção à fast food aí) e a sombria Bebê baleia, dos versos “não chore, bebê baleia/ Sua mãe já vai voltar/ Se os homens que saíram para a pesca/ Não conseguirem lhe pegar”.
É uma terrível canção de ninar. As três expressam um mesmo mal-estar, seja diante das forças de segurança do Estado, do consumismo alimentar ou da matança de outros habitantes do planeta. Faz sentido essa minha leitura? “Olhando daqui é uma sequência de provocações e questionamentos vestidos com poesia, procurando debater a adulteração da palavra e a manipulação da realidade dos fatos com fins egoístas”, avalia Nenung, fã de Who e Clash. “A ignorância monitorada.” Se é assim, o Projeto Dragão cospe fogo para derreter nossos grilhões.
OS THE DARMA LÓVERS
Surgidos em 1998 como uma dupla a partir da colagem de meditação budista + rock´n roll + MPB + psicodelia + tropicalismo & poesia conquistaram rápida e naturalmente seu espaço pela sua sonoridade e temática que vai do amor à impermanência e da alegria à reflexão.
Reconhecidos pela harmonia das composições e das vozes uníssonas de Nenung e Irínia, OTDL já cruzou fronteiras viajando o Brasil de norte a sul e excursionando em 2008 pela França para lançar seu CD “Laranjas do Céu”, que foi eleito pelo Jornal francês Libèration como um dos 10 melhores CDs do ano.
Ao longo de 19 anos de carreira, a dupla já virou banda, já foi dupla novamente e agora atua como trio, além de suas músicas terem sido gravadas por artistas como Paula Toller, Mariana Aydar e Dado Villa-lobos.
Os the DL lançaram em 2013 o CD “Espaço!” com produção de Marcelo 4nazzo, masterizado por Edo Portugal e lançado em parceria com o selo Loop Discos; atualmente navega em resgate constante de sua essência inicial e do que o tempo deixou meio solto por aí por andar acelerado demais ou será que somos nós?
O desafio de sermos humanos nestes tempos de velocidade e mudança incessante traduzidos em música, amor e poesia.
— Os Darma têm uma onda pacífica, de serenidade, com uma poesia que apresenta uma questão e uma possível leitura dela. Já o Projeto Dragão, cuja onda é mais provocativa, apresenta uma questão e deixa isso em aberto para o ouvinte — explica Nenung. O grupo é a soma da vivência de todos os seus integrantes. Somos um todo.
Vamos mostrar em O SUL EM CIMA as músicas: Meu Amor se mudou pra Lua, A cada novo adeus, Tempestade, O Navegador, Serenoato e Maque Dia Feliz do álbum SERENOATO (2014); Devolva meu Cais, Flores no Zumbi e Meu Coração Livre do EP VAMPIROCRACIA (2016), de Nenung & Projeto Dragão. Vamos ouvir ainda as músicas: Frágil Felicidade, Depois da Tempestade, 1 Milhão de Anos e Espaço! Do álbum ESPAÇO (2013) de Os the Darma Lóvers .
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