Carta a Arthur Dapieve
Oi Da Pieve, Fiquei feliz em sentir hoje, lendo Exílios (O Globo), o resgate do amor pelos gaúchos depois de viver há tanto tempo no Rio. Ontem no Canecão onde lançamos o Autorretrato (Kleiton e Kledir) fiquei supreso com a quantidade de sulistas presentes, apesar da chuva fria e do transito caótico. Não tem tempo ruim para a gauchada! Seu artigo ajudou-me a esclarecer esse sentimento de exilados que nos une. É verdade que em qualquer teatro do Brasil onde nos apresentamos sempre há gaúchos por perto (também em Paris onde morei anos 90 e por toda europa). Mas ontem era a maioria de um teatro quase lotado! Não há dúvida que todos buscamos repostas a nosso respeito. De onde viemos…o que somos realmente… Meu avô, como o seu, era também um imigrante, nesse caso da Galícia, Espanha e eu fui o primeiro Ramil que voltou e resgatou esse “elo perdido” com a família espanhola. Tem um primo por lá, também músico como nós, que já ganhou 4 vezes o prêmio de melhor tecladista do ano no país. Certamente você deve ter primos, por ora apenas presumíveis, que escrevam muito bem!Para esse novo trabalho resolvi beber na fonte da fonte, escutando música celta o que me inspirou em algumas frases para o violino, que podem soar pouco brasileiras a ouvidos mais radicais, mas como somos todos na verdade estrangeiros ou “passageiros de algum trem” porque não? O Brasil é país de passado recente, comparado aos europeus, por exemplo. E o Rio Grande do Sul foi um dos últimos estados colonizados. Ou seja: um contingente enorme de “vovôs e vovós”, que falavam uma mistura do português com sua língua natal, vieram de fora desse país. Por isso foi intensa a emoção quando li seu texto porque lembrei desse sentimento forte de estar “longe tão perto” em relação a cultura exuberante do centro do país, quando morava em Pelotas (quase na fronteira sul) e depois em Porto Alegre. Sem dúvida é um outro mundo. O que nos dá liberdade sim de sermos brasileiros, mas também de pertencermos a um tribo formada por exilados vindos de todo o planeta.
Abraços,
De Ramil